5 de setembro de 2006

O coelho químico

O Alprazolam é uma droga especialmente actuante da catgoria das chamadas benzodiazepinas.
É comercializado em muitos países ocidentais com uma designaçao que se tornou célebre: Xanax.
De administração oral, o medicamento aumenta a transmissão pelos neurónios e inibe a reabsorçao de serotonina, uma substância química que determina a establidade emocional. Embora seja um antidepressivo (nos casos em que acumula com outra medicaçao ou com acompanhamento médico), o Xanax é sobretudo uma solução de emergência para a ansiedade ou para os ataques de pânico. Aqueles momentos em que a noite cai subitamente e que exigem auxílio imediato.
O escritor americano Andrew Solomon, num ensaio intensamente autobiográfico,confessa: "sou um grande fã das benzodiazepinas porque acredito que o Xanax me salvou a vida, quando aliviou a minha ansiedade "insane". Andrew conta que conseguiu finalmente dormir noites inteiras. E acrescenta: "no meu caso, o Xanax fez o horror desaparecer como um mágico faz desaparecer um coelho. Enquanto os antidepressivos que tomei eram lentos como a madrugada, iluminando a pouco a pouco a minha personalidade e deixando que ela viesse ao mundo conhecido e regulado, o Xanax trouxe um extraordinário alívio instantâneo da minha ansiedade".
São excertos de um livro espantoso chamado "The Noonday Deamon - An Anatomy of Depression"(2001). Um grosso volume que é ao mesmo tempo um testemunho, um estudo de muitos casos, uma sociologia dos comportamentos e uma análise cultural. Além de um assumido descendente do clássico "The Anatomy of Melancholy"(1621), do inglês Richard Burton.
Deprimido crónico, Andrew Solomon conta minuciosamente as suas atribulacões, sabendo que tal como ele existem dezanove milhões de americanos com sintomas continuados de depressão. No meio de evidentes cautelas em matérias tão sensíveis, o Xanax aparece nestas páginas como o medicamento mais elogiado. Desde logo porque actua de imediato: alivia a ansiedade, diminui o sofrimento, controla o medo, empresta alguma clareza ao espírito perturbado. Como todos os fármacos, o Xanax tem igualmente efeitos eventuais e indesejáveis. E nalguns casos é viciante. No entanto, quando tomado em doses sensatas e por períodos pequenos, é incrivelmente eficaz. Escreve Solomon, sobre as benzodiazepinas em geral: "são drogas maravilhosas para usar no curto prazo, e podem tornal a vida tolerável durante períodos de grande ansiedade. Tornar a vida tolerável. Eis um dos mais altos desígnios das artes, das ciências, das ideias, das religiões. É verdade que esses comprimidos (como outros) não mudam nada. É verdade que são simplesmente um achado da laboratorial que modifica substâncias no cérebro e no sistema nervoso central. Acontece que, quando tomado no momento adequado, o Xanax constitui uma resposta acessivel e decisiva contra a falta de energia, o fastio, a insónia, os baixos níveis de confiança a incapacidade laboral ou social e demais danos incapacitantes.
Algumas pessoas criticam a natureza meramente química destes processos. A estes cépticos ou cínicos, Andrew Solomon responde que tudo, mas tudo, é química. As nossas reacções são reacções químicas. As nossas emoções são reacções químicas. A alegria e a tristeza são questões químicas. O amor é uma questão química. O que importa então não é a natureza "química" de uma emoção ou o seu eventual estímulo condicionado. O que importa, o que acima de tudo importa, é que o mágico consiga que o coelho desapareça.

Pedro Mexia
por
P. César

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